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Artigos no taz

Eu tive que voltar para o Brasil para conseguir publicar artigos no taz. Eu cheguei a escrever quatro ou cinco artigo enquanto estava em Berlin, mas meus textos sempre acabavam servindo de embasamento para as matérias dos colegas e nunca publicados na íntegra. Enfim, quanto estava lá, fiz trabalho de correspondente para meu jornal daqui, o Correio do Povo. Agora que estou aqui, o caminho se inverteu.

Os dois artigos, um do dia 16 de junho e outro do dia 30 de junho, podem ser conferidos online. Clica nos links abaixo 😉

“Prostitutas aprendem línguas estrangeiras”, taz, 16 de junho de 2013.

Prostituierte lernen Fremdsprachen

“A cada dia, novas visualizações”, taz, 30 de junho de 2013.

Jeden Tag neue Aufrufe

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Tchau, taz

Eu tenho muito a dizer sobre o jornal onde trabalhei nesses tres meses em Berlin. É tão diferente do jornalismo que eu já tinha ouvido falar que temo me esquecer de algo quando relatar sobre o taz. O jornal surgiu de uma cooperativa em 1987 – mas isso qualquer um pode digitar o Google e verificar. As páginas do taz praticamente não tem anúncios publicitários: Eles se sustentam com o dinheiro de doadores – e são mais de 12 mil! Além disso, há os assinantes e a venda em banca. É editado de segunda a sexta e tem uma edicão especial no final de semana: taz am Wochenende.

O taz circula em toda a Alemanha, é um dos seis jornais nacionais do país. Tem uma visão um pouco de esquerda, mas, que no meu ponto de visto, nada lembra o significado dessa palavra. Eles não são pró-comunismo ou idolatram o Che Guevara. Como uma colega muito bem definiu: “O taz apenas mostra ao leitor como pensar de outro jeito, não do jeito que todo mundo está pensando”. Complicado? Não se voce entende o que se passa na mídia alemã.

Há uma televisão e uma rádio pública, que produzem conteúdos de qualidade. Daí tem a Axel Springer, dona do Bild e do Welt. Assumidamente de direita. Aliás, um colega que já trabalhou lá me disse que fazem os jornalistas assinarem um documento, quando do contrato, alegando que voce é pró-Israel e Estados Unidos. Não sei se é verdade, mas não duvidaria. Depois há o die Zeit, com matérias interpretativas gigantes, o Süddeutschen Zeitung, editado no sul da Alemanha, e o der Tagesspiegel, motivo do irritamente da Axel Springer, já que eles não cobram pelo conteúdo publicado na Internet. Sim, agora é moda cobrar por conteúdo de Internet, como no Brasil.

Voltando ao taz: Nós (posso me incluir?!) não cobramos por conteúdo da Internet, o leitor pode ler à vontade. No entanto, sempre aparece uma janela sugerindo que voce contribua. Se quiser, beleza. Se não, le na mesma. O jornal impresso, na banca, custa 1,60 euros. O mais barato da Alemanha, o Bild, sai por 0,70. Para quem não conhece, o Bild é o jornal que inspirou o Diário Gaúcho: mulher, futebol, sangue, fotos grandes e pouco texto.

O taz é conhecido por suas manchetes fortes. Eles são pequenos, com pouca estrutura, mas influenciam mundo afora. Aliás, os jornalistas do taz tem o menor salário da categoria na Alemanha. “Somos um jornal pobre”, me justificaram. Enquanto um jornalista do Spiegel pode ganhar mais de 4 mil euros, no taz os salários ficam em torno dos 1,5 mil euros. Mas, veja bem: Antes de julgar e dizer “NOOOOSA, QUE MÁXIMO”, saiba que os impostos na Alemanha para solteiros chegam a 40%. Isso mesmo. Ah, e tem diferenca de imposto para solteiros e casados. Ah, e mais: Não é necessário fazer faculdade de Jornalismo para ser jornalista. Por aqui, isso é ofício, que se aprende fazendo. No taz trabalham engenheiros, informáticos, economistas, sociológos, historiadores, especialistas em diversas áreas, usw. (usw = etc, em alemão).

As reuniões de pauta são abertas ao público. Sempre há grupos de escolas e universidades para ouvir. Os jornalistas sentam todos em mesas colocadas de modo a formar um círculo e os demais ficam em cadeiras, mais atrás, em volta da big mesa. Eu sempre acho mais animado quando a Ines Pohl, chefe da Redacão participa. Ela grita. Gosto do tom da voz dela em alemão. Ela comanda só com o olhar. Todos podem falar e debater o tema. Sempre há um Hausaufgabe (tema de casa), ou seja, um assunto que todos deveriam refletir sobre para chegar a uma conclusão na manhã seguinte e publicar. Quase todos os dias, alguma pessoa faz a leitura crítica do jornal. E metem o pau, se for necessário.

Eu levei a sério o trabalho aqui. Mesmo sabendo que o maior pinto do mundo está pendurado na lateral do prédio. Aliás, há testículos ali também, partes da estátua de um homem nu. Os turistas que passam pelo Check Point Charlie, que fica mesmo aqui ao lado, sempre fotografam. “Olha o pinto”, alguns dizem (traducão livre). Eu, quando estou na janela, abano. Ontem brinquei com meu chefe: “Eu sou famosa no Japão, depois de aparecer em tanta fotos com o big dick”.

O pintão

O pintão

Ontem, entreguei meu final report do programa. Falei bem do taz. Não teria como falar mal, pois as coisas por aqui são tão diferentes do que eu estou acostumada, que tive que aprender tudo. Não tem nem como comparar para definir se isso ou aquilo é melhor ou pior. No report, esqueci de agradecer aos colegas daqui. Eles foram demais. Obrigada por aturar a brasileira que rompeu com a lei do silencio na redacão. A responsável por mim aqui, Doris, esses dias foi questionada: “Mas todos os brasileiros falam assim tanto quanto ela (eu)?”. Ela disse, certeira: “Não. Ela que fala demais”. Fato é que estou falando menos. Bem menos. E me acostumei com o silecio. Vai ser uma dor de cabeca voltar à gritaria do Brasil.

Entreguei o final report também ao meu chefe do taz. Ele disse: “E o que eu faco com essa merda?”. Eu, bem simpática: “Tu le e depois usa como papel higienico”. Ele riu. Logo nos meus primeiros dias perguntei o que eu deveria fazer com os jornais velhos, pois não sabia se guardavam ou colocavam no lixo. Ele disse: “Leva pro Brasil e usa como papel higienico”. Naquele dia, eu demorei um pouco a rir.

Bom, ele leu ontem a noite e me devolveu hoje pela manhã. Kai e Beate, os chefes, disseram-me: “Muito bom teu texto. Vamos enviar a todos do jornal”. E colocaram no grupo de e-mails públicos para todos lerem as minhas impressões sobre a Alemanha, taz e IJP. Enfim, as quatro folhas de papel que entreguei a ele ontem acabaram retornando a mim. Ninguém usou-as como toilet paper 🙂

Sexta-feira é meu último dia por aqui 😦

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taz Café

Antes do meu primeiro dia de trabalho no taz, visitei a Rudi-Dutschke-Straße para me localizar. Queria saber o que havia por perto do local que trabalharia. Tudo bem que eu já tinha observado a rua diversas vezes pelo Google Street View, mas pessoalmente a impressão é sempre outra. Queria ainda saber onde ficava exatamente o Mc Donalds nas cercanias do Check Point Charlie, que, por sua vez, fica ao lado do prédio do taz. Essa primeira visita aconteceu no primeiro sábado do mes de marco.

Na segunda, quando iniciei no jornal, a Doris, responsável pelos jornalistas visitantes, estagiários e voluntários do taz, me explicou: “Tu pode fazer o cartão do taz Café e comer sempre pela metade do preco do menu.” O cartão custou-me 7 euros, retornáveis quando eu for embora, no caso, na sexta-feira agora :/ A comida sai mesmo sempre pela metade do preco. O cardápio conta todos os dias com 5 opcões: uma salada, uma sopa, prato vegetariano, não-vegetariano e sobremesa. NUNCA repetiu-se. Para funcionários do taz, salada e sopa saem por 1,5 euro, prato vegetariano por 3,5, o com carne-peixe-ou-frango por 4 euritos e a sobremesa a 1,5. As bebidas seguem o preco da carta normal. No comeco, eu sempre tomava Afri-Cola, equivalente a Coca-Cola, sóquenão. Há mais ou menos um mes, comecei a beber o que os alemães bebem: Apfelschorle. Suco de maca e água com gás. Lecker!

Abaixo seguem algumas fotos randomicas do que servem no taz Café.

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O novo Papa, segundo o taz

Difícil traduzir em poucas palavras a chamada da capa do taz de hoje: “Junta-Kumpel löst Hitlerjunge ab”. Para entender a “piada”, é necessário alguma explicacão: O “camarada da junta, militar”, do tempo da ditadura na Argentina, “substitui” o “membro da Juventude Hitlerista“. Estão a falar de Chico e Bento, respectivamente. Na linha de apoio, o novo papa é chamado, entre outras coisas, de “oportunista de passado duvidoso”.

Bento e Chico

Bento e Chico

Eu acho o taz um jornal de opinião. Muito fortes, de vez em quando, ou, melhor, quase sempre. Logo que soube que viria trabalhar aqui, comecei a acompanhar o jornal via internet. Eles são independentes financeiramente, cheios de jornalistas especialistas e gente com vontade de dizer o que pensa. Podem fazer um jornalismo diferenciado dos padrões usuais. Falam o que querem, mas também recebem uma pilha de e-mails com gente reclamando. Aliás, os proṕrios jornalistas do taz criticam as matérias dos colegas.

Todos os dias, na reunião de pauta geral, que ocorre às 9h30min, alguém le algum artigo publicado e faz uma crítica. Aliás, muitas vezes leem MUITOS artigos e saem metendo o pau – ou, de vez em quando, falando bem. Quase todos os dias, temos alguma palestra ou atividade aberta para os jornalistas do taz, colegas de outros veículos e estudantes. Hoje, por exemplo, a editora de um outro jornal veio na reunião de pauta para falar sobre a capa do taz. Ela disse que não gostou, em especial, do início do texto: “O novo papa é, a julgar a partir das informações disponíveis atualmente, um saco velho reacionário como o seu antecessor”.

E a coisa continua:

“O novo saco velho, que sempre atende pelo pseudônimo de Francisco, quando ainda se chamava Jorge Bergoglio e era arcebispo de Buenos Aires, era contra o casamento de gays e lésbicas (“plano do diabo”) e lutou contra o direito de casais do mesmo sexo adotarem (“abuso infantil”). Mesmo antes, como chefe dos jesuítas argentinos, manteve uma estreita relação com a junta militar e denunciou os opositores do regime. Mas isso é tão surpreendente? E o que nós esperávamos? Um belo africano gay que adora George Baitaille, Simone de Beauvoir e os situacionistas, o Islã, o judaísmo, ou os ensinamentos de um mendigo (…)?”

Aliás, o artigo ainda questiona se tínhamos a esperanca de ter “um papa que fuma um baseado após a missa de domingo”.

Enfim, pensei que nunca conheceria um jornal que faz jornalismo desse jeito. Eu dou like. Todos os dias – apesar de nem sempre concordar com as opnioes, acho essa postura fenomenal.

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A matéria do Hitler

Perguntei a outra Praktikantin da minha editoria quantos artigos ela publicou no taz até agora. Em 40 dias, disse-me que foram oito. “Mas os outros estagiários (Praktikante) publicaram mais do que eu. Em média, uns 16 nesse período.” Me senti mal. Eu sei que estou na primeira semana, ainda me habituando ao esquema por aqui, mas eu já queria ter emplacado alguma coisa. Claro que preciso considerar que demoro muito mais tempo do que aqueles que tem o alemão como língua materna: sou a única jornalista-visitante estrangeira.

O expediente por aqui vai até às 17h. Comecamos às 9h. Eu sempre chego püncktlich, com excecão de hoje. Saí mais cedo na quinta-feira para conhecer a ITB, a maior feira de turismo internacional da Europa. Hoje, sexta-feira, tinha uma entrevista agendada com um diretor da Embratur. Cheguei pontualmente lá, eles que não foram lá essas coisas de “pontualidade alemã”. Conversamos por cerca de meia hora sobre o turismo brasileiro, o alavancar que a Copa do Mundo pode nos propiciar, além das questões de infraestrutura que o país herdará do evento.

No momento, estou produzindo uma matéria sobre a preparacão brasileira para a Copa do Mundo em 2014, a ser publicada no taz. No entanto, hoje conversei com o Andreas, correspondente do jornal no Brasil, e ele se interessou muito por um comentário que fiz a respeito de depilacão. Tudo comecou na segunda-feira, quando ele veio conversar na reunião de pauta da redacão sobre um artigo que escreveu a respeito de depilacão. Eu o contei hoje que existe um tipo de depilacão para virilha chamado “Hitler”. Pedi a algumas amigas que me conseguissem uma foto disso – não da virilha, mas sim de uma tabela de precos brasuca na qual conste essa opcão. Já posso até imaginar o título do artigo: “Hitler é o preferido das virilhas brasileiras”. Creio que, do pouco que conheco o jornal, mas do muito que já entendi sobre a dinamica, encaixaria perfeitamente.

Como eu já havia comentado em posts anterior, a redacão é muito colorida e desoprganizada. Papeis por todos os lados, mesas lotadas, garrafas que misturam-se a equipamentos eletronicos. Todo mundo já foi embora no meu setor: são 17h50 aqui. Aproveitei para fazer umas fotos.

Minha mesa entrando no clima

Minha mesa entrando no clima

As mesas no centro da sala. Ali senta a chefa.

As mesas no centro da sala. Ali senta a chefa.

Verifiquei hoje a previsão do tempo. Teremos neve no final de semana. Nos últimos dias, tinha esquentado um bocado, e o sol deu as caras. No entanto, terca-feira será bem divertido: -12 graus. Uma experiencia interessante para quem passa o dia vendo os amigos posarem com vestidos curtos em fotos no Facebook.

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O primeiro dia no die tageszeitung – fotos

Apesar da fachada antiga, tudo aqui é dentro é super colorido. Me parece mais uma daquelas oficinas de arquitetos que a gente ve nos filmes. Acho que a intencão é instigar a criatividade e é exatamente assim como eu me sinto aqui dentro: livre para criar e delirar em qualquer coisa que eu queira jornalisticamente fazer. O muro passava logo no meio da rua, isso assusta um bocado. Se parar para pensar, há uns 20 anos, eu olharia pela janela e veria pessoas do outro lado, com as quais nunca poderia conversar. A foto foi tirada no sábado, quando passei por aqui para conhecer as redondezas e decidir o caminho mais fácil e rápido para chegar. Afinal, em Deutschland temos que estar immer pünkitlich!

die tageszeitung ou, apenas, taz

die tageszeitung ou, apenas, taz

O café alemão está mais para um chafé, mas, enfim, a terceiro-mundana aqui já tomou umas quatro canecas sem acucar. O legal da cafeteria-cozinha é que a gente faz umas amizades, fica ali conversando, tem uns pufes e sofazinhos para ler jornal, etc e etc. Eu estou me apresentando para todo mundo como “die brasilianerin”. A Doris me deixou claro que eu estou fazendo um estágio, mas não sou como os demais estagiários que ainda est+ao na faculdade. Vou ralar!

Café, chá, leite e achocolatada grátis para os jornalistas do taz

Café, chá, leite e achocolatada grátis para os jornalistas do taz

Tem cartaz de mulher pelada colado na parede :O Tem! E a capa do Bild com a foto do Papa ao lado? Sim! A capa do Bild nesse dia, quando o ex-papa (?) tornou-se papa (ou, posso dizer que “tomou posse”?) dizia: “Nós somos papas!”. Sabe como foi a capa do taz nesse dia? Toda preta, com apenas uma frase, escrita com letras brancas: “Oh, mein Gott” (Oh, meu Deus!). Eu cheguei a mostrar para os meus colegas do Correio do Povo, no início de fevereiro quando o papa pediu demissão, a capa que o taz publicou: “Gott sei Danke!” escrito em preto, com fundo branco. Gott sei Danke = Gracas a Deus. Pois é. Jornalismo foda (no bom sentido) por aqui.

O das Bild é concorrente, mas há duas páginas dele coladas na sala de reuniões do taz

O das Bild é concorrente, mas há duas páginas dele coladas na sala de reuniões do taz

O das Bild, aliás, é um dos jornal que inspirou o Diário Gaúcho. Curto e grosso, bastante polemico. Uma boa dose de sangue, mulher pelada e futebol. Parece-me uma boa receita para acarretar certa faixa de leitores. Apesar do Bild ser uma espécie de concorrente do taz, nós (aqui eu estou me incluindo como jornalista desse veículo alemão hehe) nada temos a ver com eles. O taz opina mais, tem textos mais longos e nada porno. Aliás, um dos diretores da Axel Springer com quem me reuni disse-me que a dosagem de mulher pelada diminui no Bild: menos apelacão, mais informacão.

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